ACESSIBILIDADE: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
Podemos dizer que a acessibilidade foi um dos temas mais discutidos neste ano. O assunto ganhou destaque inicialmente com a novela das 20h, Viver a Vida, da Rede Globo. Como a mídia tem forte poder de influência, várias empresas aproveitaram a visibilidade e passaram a desenvolver ações voltadas para esse público.
Como espectador, considero fantástico o poder da mídia de sensibilizar empresas e pessoas em torno de uma causa que, até então, vinha sendo tratada de forma marginal. Ainda assim, acredito que essa sensibilização e os investimentos deveriam ter ocorrido antes, não apenas por responsabilidade social, mas por humanidade. No entanto, como nem tudo acontece no tempo certo, temos que aproveitar quando as oportunidades surgem.
Saindo do olhar de espectador e assumindo o papel de empresário, gostaria muito de investir e contratar mais PNEs — Portadores de Necessidades Especiais. No entanto, antes mesmo de fazer isso por filosofia ou vontade própria, sou obrigado a cumprir uma exigência legal. Isso mesmo: a legislação determina que empresas mantenham um percentual de PNEs em seu quadro de funcionários. Considero essa medida acertada por parte do governo. E destaco também o bom trabalho da DRT (Delegacia Regional do Trabalho), que realiza fiscalizações frequentes, sempre com respeito, foco em orientação e sensibilização.
Uma conta que deveria fechar:
Mídia + Vontade do Empresário + Legislação + Fiscalização = ?
O resultado ideal dessa equação deveria ser sucesso. Mas, infelizmente, ainda estamos longe disso. O sucesso, nesse caso, está mais próximo de um problema não resolvido do que de uma real conquista social.
Perguntas que ficam:
O que impede essa soma de gerar igualdade de oportunidades para os PNEs?
O que desestimula os empresários a contratar como deveriam?
O que encarece e torna a fiscalização da DRT ineficaz?
A resposta está nas mãos dos políticos e governantes — e, por falta de comprometimento, nunca é respondida.
Falta planejamento
Esse é o grande problema da maioria dos projetos sociais: quando não são bem elaborados ou surgem apenas para atender interesses políticos, e não sociais, acabam sendo mal executados, descolados da realidade.
Gostaria de entender: por que a lei vale para os empresários, mas não para os governantes?
Como é possível criar uma lei, incentivar um programa, mas não oferecer nem o básico da infraestrutura para que ela funcione?
Como exigir que o empresário contrate, se o PNE não tem acesso à mobilidade urbana mínima?
Como um cadeirante pode circular por cidades como Lauro de Freitas, onde mal existem calçadas acessíveis?
Como uma pessoa com deficiência visual pode caminhar pela Rua Manoel Dias, em Salvador, se não há piso tátil, nem sinalização sonora?
Quem se lembra do absurdo da tentativa da prefeitura de instalar um guia para deficientes visuais... com um poste no meio do caminho? Como aprovar e executar um projeto como esse?
E não se trata apenas de Salvador — isso se repete em várias cidades e estados. Um exemplo emblemático é São Paulo: os pisos táteis na Avenida Paulista, a avenida mais rica do país, só foram instalados recentemente.
Um apelo
Deixo aqui um apelo com tom de indignação aos responsáveis pelas leis e políticas públicas:
Estudem o problema por completo.
Criem ferramentas de medição, cronogramas, planos de ação.
Divulguem os resultados.
Fiscalizem os estados e municípios com a mesma rigidez aplicada aos empresários.
Ofereçam centros de capacitação e aprendizado contínuo para os PNEs, já que as escolas não cumprem esse papel como deveriam.
Treinem, orientem e disponibilizem ao mercado profissionais mais qualificados, pois a verdade é: encontrar pessoas com o mínimo de preparo ainda é uma grande dificuldade.
Um desabafo sincero de quem vive isso todos os dias.